“Debaixo dos Arcos” foi, e ainda é, o primeiro blogue não virtual de Aveiro. Espaço de encontro, “tertúlia” espontânea, “diz-que-disse”, fofoquice pegada, críticas e louvores, ..., é uma zona nobre da cidade, marcada pela história e pelo tempo, onde as pessoas se encontram e conversam sobre "tudo e nada": o centro do mundo...

13 julho 2006

Politica "light"

Texto publicado na edição de hoje (13.07.2006) do Diário de Aveiro.
 
Pensar Aveiro III
Política “light”


A razão prioritária e suprema para que Aveiro pense urgentemente a sua estratégia regional no quadro enevoado da regionalização que, obscuramente, se avizinha, é, como interessantemente dizia o Dr. Candal numa entrevista aqui publicada no dia 1 de Junho passado, a sua falta de “peso político” nacional. Acrescentado eu, o facto de Aveiro assentar a sua estrutura interventora numa “política light”.
Tal “tacanhez” estruturante que transforma Aveiro e esta região num, cada vez mais gritante, paroquianismo provinciano do litoral, tem responsáveis. Uns mais visíveis; outros irremediavelmente anónimos. Mas todos responsáveis.
Aveiro foi perdendo ao longo da história o seu peso e relevância na estratégia nacional.
Para o bem ou para o mal, o poder acéfalo de Lisboa, ainda no tempo do Marquês de Pombal, iniciava a sua cruzada pela supremacia e influência nacionais ao ordenar a liquidação dos Duques de Aveiro.
Longe vão os tempos da importância do sal, do peso da pesca, da economia cerâmica. Da influência política de José Estêvão, Mário Sacramento e os Homem Cristo (Pai e Filho).
Longe vão os tempos da capacidade de exigir ou de contestar, como serve de exemplo, os Congressos da Oposição Democrática.
Mas se politicamente a cidade e a região foram conquistando um défice de importância e peso nas estruturas políticas e governativas do país, à custa de ausência de pressão política e económica, motivada pela inexistência de cotação nacional dos valores intelectuais que proliferam em Aveiro, também não deixa de ser um facto que tal capacidade de intervenção e de contestação é gerada pelo simples e real facto de os aveirenses perderam o histórico sentido de corporativismo, bairrismo, solidariedade local, intervenção e, acima de tudo, sentido de cidadania, capazes de influenciar as decisões nacionais.
A própria influência da Universidade de Aveiro no panorama científico e intelectual do país, tem sido diminutamente, aproveitada.
A realidade dos factos da vida da região tem reforçado esta fraqueza da falta de peso estratégico de Aveiro.
A perda de influência no eixo IP 5 que a plataforma logística do Porto de Aveiro vai “teimando” em não se concretizar e que o “sonho” de uma ligação de alta velocidade à vizinha Espanha vai transformando em “pesadelo”.
A tão antiga reivindicação da reabilitação da linha ferroviária do Vale do Vouga.
A nossa subserviência face à influência intelectual e política de Coimbra, como o recém episódio da concretizada pista de remo em Montemor e da não concretização do nosso projecto para o Rio Novo.
A fragilidade financeira e social motivada pelo desinvestimento económico com reflexos na taxa de desemprego e na quantidade de empresas que, mês a mês, vão encerrando as suas portas na região.
A incapacidade das concelhias e distritais dos partidos da região gerarem um lobi político nos actos eleitorais nacionais.
A frágil importância política de desenvolvimento regional da área Metropolitana de Aveiro (com algumas “fugas” para Porto e Coimbra que neste último caso origina a “cedência” da importante da região da bairrada), da AMRia e da região de turismo, mormente o esforço sentido dos seus intervenientes directos.
Agrava todo o “cizentismo” da nossa existência local o anunciado encerramento do Serviço de Atendimento Permanente do Centro de Saúde de Aveiro e inviabilização da Administração Regional de Saúde do Centro a uma candidatura da Santa Casa da Misericórdia de Aveiro para uma unidade de internamento prolongado, fundamentada esta decisão na ausência de prioridade e de necessidade para a saúde em Aveiro.
É esta realidade da nossa fragilidade económica, social e política, que reflecte o nosso valor e peso nacional.
É contra esta realidade que é urgente todos os aveirenses unirem esforços. Não ao sabor do agendamento político nacional, mas criando prioridades e estratégias importantes para Aveiro crescer e transformar-se motor duma região potencialmente capaz e válida.
Sem constrangimentos partidários ou interesses individuais, é importante (re)pensar Aveiro.

8 comentários:

Al Berto disse...

Viva Miguel:

"Longe vão os tempos da importância do sal, do peso da pesca, da economia cerâmica...da capacidade de exigir ou de contestar..."

Contra factos não há argumentos.
Até aqui tudo bem mas...então onde está fundamentado o pseudo-poder de Coimbra?

Na sua, ainda que histórica, anquilusada Universidade?
Nas contínuas falências que, infelizmente, a têm martirizado?
Na sua geografia e morfologia ultrapassada para os nossos tempos?
No seu urbanismo velho e decadente?
Na sua fraquíssima mobilidade?
No envelhecimento acentuado da sua população?

Isto para nomear somente alguns pontos mais evidentes para todos nós.

Aveiro tem e deve afirmar-se pela positiva e tem rodas as condições para isso.
As suas gentes são das mais empreendedoras e produtivas do país.
A sua Universidade é um caso impar de sucesso nacional e internacional.

Aveiro só precisa é que políticos incompetentes não tentem contrariar o seu natural progresso.

Um abraço,

Migas (miguel araújo) disse...

Caro Mostardinha
Obrigado pelo excelente contributo.
Mas a realidade é um facto.
O poder de Coimbra não é "pseudo", em "virtual".
Está concretamente cimentado na tradição política e histórica da sua universidade e da sua história própria.
Infelizmente, para Aveiro, tal facto foi crinado uma raíz forte e um peso no contexto nacional relevante.
E é contra isto, sem qualquer tipo de constrangimentos, queAveiro deve "lutar" para demarcar a sua posição.
E não é só dos políticos a responsabilidade. Tem que ser de todos... partidos e cidadãos.
Aveiro agradece.
Um forte abraço

AC disse...

Não me parece que a situação de Aveiro seja muito diferente do quadro geral lusitano.

O abandono das regiões, a menorização das mesmas por parte dos sucessivos governos tem sido prática geral e a nossa não estará píor ou melhor que muitas outras.

É um problema político, já que não têm sido tomadas as medidas correctas para que o país e, consequentemente as suas regiões, ganhem importância e, acima de tudo, as populações vivam com a qualidade que todos merecemos.

Não é afinal Portugal, tão marginal na europa, como Aveiro relativamente a Lisboa?

Caro Miguel, obrigado pela visita ao noticias e pelo comentário.
Cpts.

João Branco disse...

Migas, penso que muito mais que reprensar Aveiro, é preciso repensar o nosso Portugal e os nossos Portugueses!

Al Berto disse...

Viva:

Este é um tema que mexe comigo.

...e onde é que esteve Aveiro estes anos todos?

Os tais poderes não estiveram sempre em Coimbra?

Que é que isso lhes valeu?
Chegar aonde chegaram?
Com os resultados que se conhecem?

A força duma cidade está nas suas gentes, e Aveiro é terra de gente empreendedora, com a fibra daqueles que abandonavam a família meio ano para ir num barco á vela pescar o delicioso bacalhau que nos habituámos a comer.

Aveiro é terra daquelas gentes que os empresários de sucesso tiveram a visão de descobrir, em que primeiro está o trabalho e só depois surge a remuneração e não o contrário...como em Coimbra.

Aveiro dispensa serviços públicos que contribuam para o buraco financeiro do estado...não são eles que geram riqueza...como os anos demonstraram a Coimbra.

A política do "funcionalismo" já deu o que tinha a dar.
Estamos na era da revolução digital que tudo tratará de forma célere e desburocratizante.

Aveiro é o futuro, é progresso, é beleza.
Aveiro afirma-se pela positiva.
Aveiro é tudo e só depende de si.
Aveiro é a MINHA CIDADE.

Um abraço,

Paulo disse...

todos sofrem: www.aspigcentro.blogspot.com
Pois...

Migas (miguel araújo) disse...

Caro Marechal
Quão digno seria ter-mos a sua bravura no comando das nossas tropas.
Mas alguns princípios teriam de ser mais bem objectivados.
A história da nossa região, não tem necessariamente de ser um mero espaço histórico e passado.
Os vovos moles, os moliceiros, a caldeirada, a serra e o mar, o sal, têm obrigatoriamente de serem potencializados e, eventualemnet, coexistirem com as tais novas tecnologias que refere.
É que a ciência e a tecnologa desajustada das realidades das suas gentes e histórias, por si só, de nada servem. Se não estiverem enquadradas com as necessidades das pessoaos, são, como muito bem diz, meras ficções científicas.
A vida das regiões é fieta com a realidade histórica (passado, presente e futuro) das suas gentes e costumes.
E gostei de o ver concordar comigo...
É que eu nunca disse que as preocupações e a discordância que afirmei no meu escrito em relação às 5 regiões, tinham relacionamento directo com algum cizentismo e pessimismo referente a Aveiro.
Aveiro tem todas as condições (naturais, eceonómicas, políticas, sociais e culturais) para se impor como pólo centralizador de uma região.
Mas isto baseado na descentralização de competências e fundamentado numa importante e relevante àrea Metropolitana de Aveiro.
Nunca numa questão de novo centralismo político e governativo em Coimbra, mais estado e centralismo público e excesso de uma região cheia de assimetrias, culturas distintas, realidades sociais e económicas díspares.
Aí dúvido que, face a interesses nem sempre claros, Aveiro conseguisse impôr a sua relevância e estratégia.

Migas (miguel araújo) disse...

Caro Mostardinha
A realidade do tema é mais abrangente.
Concordo consigo quanto á questão do funcioanlismo e do pseudo-poder de Coimbra.
mas o que está em causa não é só a cidade d Aveiro ou nosso município. É toda uma região e um distrito hoje descaracterizado e desfragmentado entre Porto e Coimbra.
E é esta a realidade que temos que combater e contraiar.
Porque, ligeiramente ao contrário do que afirmou o Dr. Candal na entrevista que concedeu ao Diário de Aveiro, Aveiro já deu grandes préstimos políticos e sociais ao país (só 1 exemplo - José Estêvão - mas há muitos mais) os tais poderes, que o meu caro, refere, nem sempre estiveram em Coimbra.
Aveiro recuperou a condição diocesana (questão religiosa); ganhou um porto comercial e uam barra que muito tem a potenciar economicamente; sempre teve direcções regioanis (agricultura, desporto, segurança social, saúde) para mais tarde passarem a sub-regiões (dependentes de Coimbra).
Nem sempre foi assim...
Há que recuperar a nossa importância - desde Anadia até Arouca, desde Sever do Vouga até Aveiro.